ATA DA QÜINQUADRAGÉSIMA OITAVA  SEXTA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 05.19-12.0-1989.

 


Aos cinco dezenove dias do mês de dezembrooutubro do ano de mil novecentos e oitenta e nove, reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua QuadragésimaQüinquagésima Oitava Sexta Sessão Ordinária Solene da DécimaPrimeira Sessão  Legislativura Ordinária da Décima Legislatura, destinada àa entregaconcessão do Título Honorífico de Cidadãoo de Porto Alegre Eméritao Jornalista Paulo Fontoura Gastal, concedido através da Lei 6243/88. o ao engenheiro Fúlvio Celso Petracco, concedido através do Projeto de Resolução n 35/85 (Proc. Nº 2604/89). Às dezessete horas e  trinta  e quatro nove minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e  solicitou solicitou aaos Líderes de Bancada quea conduzissemrem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. : Clóvis BrumValdir Fraga,, Segundo Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Tarso Genro, Vice-Prefeito de Porto Alegre, representando o Prefeito Municipal; Prof. Ruy Carlos Ostermann, Secretário de Estado da Educação, representando o Governador do Estado; Jornalista Paulo Fontoura Gastal, Homenageado; Sr. Fernando Peixoto, representando o Ministério da Cultura; Sra. Eva Sopher, Presidente da Fundação Teatro São Pedro; Jornalista Firmino Cardoso, representando o Jornalista Alberto André e a ARI; Sra. Diná de Araújo Gastal, esposa do Homenageado; e Ver. Antonio Hohlfeldt, autor da proposição e Secretário “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à homenagem, destacando a atuação do Homenageado na área Cultural. E, após, concedeu a palavra ao Ver. Antonio Hohlfeldt que, como autor da proposição e em nome das demais Bancadas deste Legislativo, discorreu sobre a importância do trabalho realizado pelo Homenageado para a vida cultural deste Estado e dos motivos que o levaram a tal proposição. Descreveu quadros vividos com o Jornalista Gastal na Cia. Caldas júnior, destacou ser trabalhador profundamente dedicado às suas tarefas e do seu respeito ao leitor. Salientou se tratar esta homenagem o reconhecimento de várias gerações que, através de seu exemplo e lealdade profissional, cresceram no amor à arte, ao cinema e à cultura. Em prosseguimento o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr. Tarso Genro, Vice-Prefeito da Cidade de Porto Alegre, o qual descreveu a maneira como travou conhecimento com o Homenageado e enfatizou a importância de sua dedicação e contribuição cultural que deu a este Estado, através da sua atuação, não apenas no Jornal Correio do Povo, mas também nos empreendimentos culturais por ele incentivados. Após, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, e de Medalha, pelo Dr. Tarso Genro, ao Jornalista Paulo Fontoura Gastal. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Jornalista Paulo Fontoura Gastal, o qual agradeceu a homenagem prestada, destacando se tratar do dia “mais emocionante da sua vida” e asseverando que o reconhecimento do referido Título lhe confere muita satisfação e alegria. Às dezoito horas e cinqüenta e quatro minutos, o Sr. Presidente levantou os trabalhos da presente Sessão, convidando as autoridades e personalidades presentes à passarem à Sala da Presidência e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Antonio Hohlfeldt. Do que eu, Antonio Hohlfeldt, Secretário “ad hoc, determinei fosse lavrada a presente Ata que, lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 


, no exercício da Presidência dos trabalhos; Engenheiro Fúlvio Celso Petracco, homenageado; Dr. Tarso Genro, Vice Prefeito de Porto Alegre; Deputado Estadual Jauri de Oliveira, Líder da Bancada do PSB na Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; Ver. Omar Ferri, Líder da Bancada do PSB, neste Legislativo Municipal e, na ocasião Secretário “ad hoc”; e Srs. Teresinha Petracco Grandene, irmã do Homenageado e representado os demais familiares. A seguir o Sr. Presidente manifestou-se sobre a homenagem que este Legislativo prestava e concedeu a palavra aos oradores que falariam em nome da Casa. O Ver. Leão de Medeiros, em nome da Bancada do PDS, ressaltou qualidades do homenageado, especialmente no âmbito político, profissional e pessoal. E, relatando aspecto da vida do Sr. Fúlvio Petracco, prestou suas homenagens ao mesmo. O Ver. Flávio Koutzii, em nome da Bancada do PT, manifestou sua satisfação em encontrar o homenageado, relembrando passagens de lutas empreendidas na militância política em prol das classes populares. O Ver. Omar Ferri, em nome da Bancada do PSB, do PCB, em nome do PC do B, registrou a presença de militantes do Partido Socialista Brasileiro no Plenário, em solidariedade à homenagem que é prestada por esta Casa ao Sr. Fúlvio Celso Petracco, destacando luta que há muito S. Sª  tem ensinado aos seus Partidários. Esclareceu circunstâncias que levaram S. Exª a ingressar no PSB. E, saudando o Ver. Elói Guimarães pela iniciativa da proposição, parabenizou-se com o Sr. Fúlvio Petracco. E o Ver. Elói Guimarães na condição de autor da Homenagem e em nome da Bancada do PDT, dói PTB, do PL e do PMDB, referindo princípios que presidem a outorga do Título Honorífico, ressaltando que a presente homenagem é concedida em reconhecimento ao trabalho, ao talento, à pessoa do Sr. Fúlvio Petracco, de quem destacou qualificações. Relembrou episódio protagonizado pelo homenageado quando do Movimento de Legalidade, e do Golpe de Mil Novecentos e Sessenta e Quatro, a postura política de S. Sª em campanhas eleitorais. E augurou que o Homenageado ainda muito contribuía na busca de uma sociedade mais justa. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr. Tarso Genro, Vice-Prefeito Municipal, que em nome do Executivo Municipal, prestou homenagem ao Sr. Fúlvio Celso Petracco. Ainda o Sr. Presidente procedeu a leitura do Texto do Título de Cidadão e concedeu a palavra ao Deputado Estadual Jauri de Oliveira, que prestou testemunho sobre a personalidade do Homenageado como dirigente partidário. Em ato contínuo, o Sr. Presidente convidou o Ver. Elói Guimarães para proceder a entrega do Título Honorifico de Cidadão Emérito ao Engenheiro Fúlvio Celso Petracco, bem como aos presentes para que, em p, assistissem essa formalidade. Após, concedeu a palavra ao Homenageado, que formulou agradecimentos a todos que conviveram com S. Sª nos campos estudantis, profissional e político. E destacou a atuação política desta Câmara Municipal, expressando sua gratidão pela outorga do Título de Cidadão Emérito. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente agradeceu a presença de todos e levantou os trabalhos às dezoito horas e cinqüenta minutos, convocando os Srs. Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Clóvis Brum, e secretariados pelo Ver.Omar Ferri, como Secretário “ad hoc”. Do que eu Omar Ferri, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente  Ata que, lida e aprovada será assina pelo Sr. Presidente e pelo 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clóvis Brum): O homem que se tornará dentro de mais alguns instantes Cidadão de Porto Alegre é um pelotense de nascimento que adotou nossa Cidade para viver há muitos anos. Na sua profissão de jornalista, dentro da sua especialidade que efetivamente são várias, tornou-se um grande referencial; criou ou ajudou a criar entidades que atualmente são instituições plena de credibilidade e admiração da nossa gente, como o Clube de Cinema de Porto Alegre e o Instituto Nacional de Cinema, mais do que isso criou equipes, incentivou talentos novos, abriu espaços valiosos em jornais para artistas, e dirigiu casas teatrais. Acho que por isso também, a nossa querida Eva Sopher está aqui presente, fazia muito tempo que ela não aparecia por aqui. Depois até vou mostrar o futuro Plenário desta Casa. Um homem modesto, tão modesto que jamais se preocupou em tornar conhecido o seu próprio nome, realizou excelentes trabalhos em várias áreas, ora como Calvero, ora como Acácio ou como Nilo Tapequara. Talvez nesses milhares de eleitores que o acompanharam por esses anos a fora nos veículos de comunicação onde trabalhou nem sabiam que debaixo desses nomes estranhos, está na realidade Paulo Fontoura Gastal, ou P. F. Gastal, portador de uma das mais antigas e nobres linhagem familiares da Zona Sul do Estado. A ele recebemos nesta Casa, a Casa do Povo, neste Plenário com a maior satisfação, caro jornalista e amigo desta Cidade, Fontoura Gastal. Seja bem-vindo, em nome da Casa, em nome de todos os Vereadores para usar a palavra, também o querido Ver. Antonio Hohlfeldt, requerente dessa homenagem, que falará pelos trinta e três Vereadores, falará por todas as Bancadas.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Ver. Valdir Fraga, meu prezadíssimo companheiro Tarso Genro, duas, três vezes companheiro, porque antes de tudo fomos companheiro do “Caderno de Sábado”, hoje de crença política e até de Administração Municipal. Meu prezadíssimo companheiro Fernando Peixoto que uma surpresa extremamente agradável, emocionante de volta a Porto Alegre para uma tarefa política e também cultural sem dúvida nenhuma, tem a oportunidade de nos dar essa alegria de estar presente aqui, ele que também fez parte de todo esse grupo de profissionais que, ao longo de anos, atuaram, na Companhia Jornalística Caldas Júnior, quer no “Correio do Povo” quer da “Folha da Tarde”. A Eva Sopher é companheira e eu sempre digo que é mãe e madrinha de todos nós que trabalhamos na área da cultura nesta Cidade e neste Estado; o companheiro Jornalista Firmino Cardoso, na representação do nosso companheiro Presidente da Associação Rio-grandense de Imprensa, entidade que ao lado do sindicato e ao longo de décadas vem representando todo trabalho dos jornalistas de um modo geral, que é a nossa ARI; Diná e meu prezadíssimo Paulo Fontoura Gastal.

Hoje é um dia muito especial nesta Casa, um dia muito especial não apenas pelo ato que temos aqui neste momento, como por uma coincidência de acontecimentos que quando da marcação desta Sessão nós não prevíamos. Evidentemente, há uma mobilização imensa nesta Cidade em torno da campanha presidencial, vinte e três anos depois de uma ditadura, e isso tem a ver com Paulo Fontoura Gastal, sem dúvida nenhuma, que fez, do seu espaço no jornal, uma trincheira em defesa das liberdades políticas e todos nós que lemos esses espaços e trabalhamos com ele bem sabemos disso. Por outro lado, é também um dia muito especial porque hoje nós estamos na data final nesta Casa, da elaboração do primeiro texto mínimo da Lei Orgânica Municipal de Porto Alegre. Hoje, até a meia noite, é o dia fatal para exame de todas as Emendas e todas as Comissões estão atuando na Casa, motivo pelo qual inclusive eu tenho a honra - relativamente rara - de poder falar não apenas no meu nome pessoal e no nome do meu Partido, mas também poder falar em nome de todas as oito representações partidárias que temos aqui. E, neste sentido, Gastal, uma mensagem muito especial do companheiro Lauro Hagemann, não apenas pela representação do Partido Comunista mas também por ser ele radialista, Presidente do nosso Sindicato por tantas vezes, e do Ver. Omar Ferri, não apenas por ser a Liderança do PSB, mas por ter participado conosco de tantas lutas em defesa dos direitos humanos que estão, neste momento, acompanhando o companheiro Lula lá em Novo Hamburgo, no comício que ora se realiza. Fora isso, como disse, a representação de todas as Bancadas e, evidentemente, a representação da Cidade, que tenho muita honra de trazer a este Plenário neste momento.

Meu querido Gastal, há dois tipos de homenagens que se pode prestar nessas ocasiões: uma homenagem pessoal, individual - e só essa valeria e seria mais do que digna, pois Paulo Fontoura Gastal tem sido um homem de literalmente milhares de amigos e admiradores. Mas tem também a homenagem coletiva, aquela que se faz em nome de toda uma coletividade. Creio que neste caso e principalmente, se insere a figura de Paulo Fontoura Gastal. Ocorre que ao longo de seus muitos anos de vida profissional, ninguém como ele soube doar-se a sua comunidade, desde os primeiros anos ainda em Pelotas até o pleno desenvolvimento de sua obra em Porto Alegre, e mais longe não foi, não porque não pudesse, mas sim porque não quis, porque desde logo deve ser frisada essa sua característica, Gastal é um homem de sua terra, um homem eminentemente urbano, sobretudo um homem ligado ao Rio Grande do Sul, e conhecemos, inclusive de suas oportunidades ao lado de Alberto Cavalcanti, de ter fixado residência e seu trabalho fora do Rio Grande do Sul e não ter tido esse interesse de ter voltado aos nossos pagos. Queria desde logo dizer que tive em Paulo Fontoura Gastal, um segundo pai. Um pai intelectual e um pai profissional. Mas a questão é que não fui o único. E aqui o primeiro, grande, e admirável mérito deste homem, relativamente pequeno de estatura, apresenta um coração enorme, bem do tamanho daquele que me inspirou a vida toda, Carlitos, e que lhe sugeriu, inclusive, um de seus pseudônimos, porque na verdade não foi o único estudante entusiasmado, jovem, utopista, sonhador que chegou um dia na redação do “Correio do Povo” e encontrou apoio, compreensão, carinho, e sobretudo, total confiança deste Paulo Fontoura Gastal. Poderia lembrar alguns, muito rápidos, de passagem: Jefferson Barros, Paulo Condine, Renato Gianuca, Marco Aurélio Vasconcellos, Emanuel Medeiros Vieira, isso para citar os mais próximos, aqueles que eram chamados os críticos do Gastal, ou as crias do Gastal na redação do Jornal. Cena rápida de cinema: de manhã, 8h30min, 9h da manhã, entra um cidadão esbaforido, bigodinho, óculos, jogando papel para todo lado, xingando meio mundo, estabanado, preocupado com o horário, chegando na sua mesa, sentando, puxava gaveta, arrumando máquina, botando papel fora, dando espirros colossais, berrando, xingando, brigando, de repente contando uma piada, saindo a rir, corre, toma um cafezinho, volta na redação, manda buscar uma pasta com fotos, e por aí a fora. Esta é a imagem típica do Gastal. O Secretário Rui Carlos Ostermann, que nos dá o prazer de estar aqui presente, foi um dos homens que também atuou conosco lá dentro da Caldas Júnior, e deve ter essa mesma imagem do seu tempo, como, com toda a certeza, o Luiz Fernando Veríssimo que está aqui, também, e que faz parte desse imenso grupo de profissionais de que participamos, com muita honra, em uma certa fase da Companhia Calda Júnior. Tenho certeza de que o Guilhermino César que está aqui, bem na frente, dando a sua benção a todos nós, ele que participou dessa aventura fantástica que foi o “Caderno de Sábado”, tenho certeza que o José Hildebrando que se multiplicava em tradutor, comentarista de várias coisas do “Correio do Povo” e nas sobras de tempo ainda crítico de literatura; tenho certeza de que o poeta Armindo Trevisan, tenho certeza de que o contista Sérgio Faracco, que numa fase quase final do “Caderno de Sábado” criou a coluna para comentar os contistas, aqueles que mandavam seus textos; tenho certeza de que o Riopardense de Macedo; tenho certeza de que o Petrucci, com quem, aliás, fiz, borrado de medo, a minha primeira entrevista sobre artes plásticas, empurrado pelo Paulo Fontoura Gastal; tenho certeza de que a Maria de Lourdes Felini, que cavou espaços, também, no espaço do “Caderno de Sábado” para falar em turismo, pela primeira vez, provavelmente com alguma conseqüência neste Estado; tenho certeza de que o Prof° Frederico Lamacchia na época Secretário de Educação e Cultura da Prefeitura de Porto Alegre, que começou algumas coisas básicas para esta Cidade e de cuja equipe, depois, com muita honra, vim a fazer parte; tenho certeza de que Flávio Del Mezze, que está aqui presente, com seus audiovisuais e que várias vezes ficava algumas horas na redação batendo papo, trazendo as últimas fofocas da Cidade e a gente trocando idéias, enfim, tantas e tantas pessoas estão aqui, hoje presentes. Lembro, por exemplo, Dona Antonieta Barone, que esteve aqui e não pôde ficar por muito tempo, quando nos levava as notícias de tantas entidades que ela representou ao longo desses anos ou aqueles comentários quando se reunia a rodinha, com Aldo Obino, com a Maria de Lurdes Sá Brito, a baixinha que editava a página infantil. Enfim, a gente ficava discutindo coisas, quem sabe lá, querendo adivinhar o futuro desse País. Mas sobretudo quando chegava a sexta-feira de manhã, o Gastal¸ nervoso, preocupado, saía a fazer telefonemas, junto com o Manoel Durks, que está aqui, também, tentando garantir o filme que se faria presente na Sessão do Clube de Cinema, no final de semana, no sábado à tarde ou no domingo de manhã. Aí, entra a figura do Kosati, que vejo aqui, hoje companheiro nosso do jornal Zero Hora, substituindo e já hoje como titular de um espaço que foi do Goida, enfim, acho que de uma certa maneira, com esses companheiros, se faz um resumo de tantos que participaram dessa aventura fantástica. Não vamos esquecer, evidentemente, o Tarso Genro que, como mencionei, hoje Vice-Prefeito desta Cidade, foi também um dos que começou a escrever, a publicar seus primeiros textos no Caderno de Sábado, e citaria aqui, pelo menos, a sua análise do Manuel Scorza, que acho que ficou um referencial na história do “Caderno de Sábado” e de alguns textos sobre literatura latino-americana. (Lê.)

Editor cultural do jornal Correio do Povo, editor de cinema da extinta Folha da Tarde. Gastal ou Calvero dedicou sua vida inteira a sua paixão, ao cinema, ao lado de outro amor permanente e fundamental, a descendente de portugueses, Diná. Por trás do bigodinho à Carlitos, por trás das verborréias de xingações e pretensos maus humores que eram suas características, em meio aos poderosos espirros que faziam a festa e o divertimento de toda a redação do jornal. Gastal sempre foi um trabalhador profundamente dedicado à sua tarefa, que faz com paixão e respeito pelo leitor e, por outro lado, profundamente disponível para as pessoas.

A história do movimento cultural de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, durante pelo menos três décadas, de 1960 a 1980 não pode ser contada sem passar pelo Correio do Povo, e isso graças a Paulo Fontoura Gastal.

Cheguei à redação do “róseo” com pouco mais de 18 anos. Minhas primeira tarefa foi escrever alguns pequenos artigos para a Folha da Tarde sobre cinema. Logo depois, Gastal incumbiu-me de preparar um festival de cinema para comemorar os 20 anos do Clube de Cinema de Porto Alegre, uma de suas criações. De lá para então, surgir o Festival de Cinema de Gramado, e que ele desde de logo deu total apoio e respaldo. Também não se deve esquecer o Festival de Coros, idealizado, dentre outros, ao lado de Dante Barone, por Paulo Fontoura Gastal. E a Feira do livro, verdadeira instituição de Porto Alegre, que sempre lhe mereceu entusiasmadíssimo acompanhamento.

Já gostava de livros quando criança. Adolescente foi um leitor regular. Ao entrar para a faculdade ampliei então minha relação com o livro, este, sobretudo, graças a Paulo Fontoura Gastal, aprendi a pensar toda a questão cultural sob um aspecto crítico e responsável.

Gastal teve alguns méritos fantásticos em sua relação profissional com os jovens, dos que eu gostaria de destacar: ele dava tarefas, confiava e deixava as coisas acontecerem. Ele sempre confiou decididamente nos jovens. Ele sempre cumpriu sua palavra e assumiu os riscos de suas decisões. Gastal sempre soube de que lado estava: ao lado do bem, da justiça, do ético. Esta palavra - este conceito cada vez mais distante de nossa experiência coletiva e social foi, creio, a palavra e o conceito chave que norteou toda a vida de Paulo Fontoura Gastal. Ele nunca teve medo de levar até as últimas conseqüências as decisões que tomava e assumia. E foi, sobretudo, de uma lealdade admirável ao jornal Correio do Povo, de que saiu traído e ferido, exatamente por aqueles a quem tanto dera a sua vida profissional.

Confesso que com o final da fase profissional do jornal, temi por Gastal. Sua identificação com a redação do Jornal era tão grande que pensei que ele não voltaria com sua verve e seu entusiasmo. Felizmente me enganei. Agora, graças a uma coluna semanal que mantém no jornal RBS e sobretudo graças à decisão do GBOEX de adquirir sua fantástica biblioteca sobre cinema, transformando-o no seu curador, vejo um Paulo Fontoura Gastal redivivo, entusiasmado, rejuvenescido.

Pronto para mais cem anos de trabalho ininterrupto e totalmente dedicado. Eis aí o melhor retrato que se pode fazer desse homem que, além do mais, é uma humanidade, de uma sensibilidade, de uma dedicação às pessoas e aos amigos em especial, que são cada vez mais difíceis de se encontrar. Não é maneira de dizer, mas literalmente, já vi muitas vezes Gastal abrir mão de alguma coisa sua para dar a outrem, que eventualmente a necessitasse. E na mais piedosa caridade cristã, de preferência, que ninguém o saiba que tenha sido ele.

Hoje, Gastal, o que se faz, pois, não é uma homenagem eventual de um homem que teve sua juventude a teu lado, ou de alguns teus amigos. Não. A homenagem que se faz hoje é de toda uma geração - ou melhor - de várias gerações que cresceram na idade e no conhecimento, no amor à arte e especialmente no culto ao cinema, graças a ti.

Mais do que isso, Gastal, quem te homenageia hoje, literalmente, é toda a comunidade. A cidade de Porto Alegre por tudo o que deste a ela. A classe dos jornalistas, pela inesquecível lição de hombridade e dignidade profissional. Os leitores, pelo aprendizado múltiplo e contínuo que nos propiciaste, e que, ainda agora, amplias, com a nova tarefa junto ao GBOEX. Mas, acima de tudo isso, Gastal, o que queremos te dizer é um carinhoso, comovido, enorme, infindável muito obrigado pela hombridade, pelo exemplo, pela dedicação e, sobretudo, pela amizade.

Tenho certeza, Paulo Fontoura Gastal, que a cidade de Porto Alegre enriqueceu-se profundamente com a tua presença entre nós. E certamente, durante muito tempo ainda, a legenda do Calvero e dos teus arquivos, da tua envolvência numa boa conversa, da tua iniciativa de projetos como o Caderno de Sábado, irão marcar a todos nós, mesmo às gerações vindouras que, ainda que desconhecendo teu nome, usufruirão do que iniciaste, criaste e estás nos legando. Muito obrigado, é pouco, por certo, mas é este pouco que podemos te entregar no dia de hoje, pelo muito, pelo imenso que nos deixas.

Só espero que daqui para o futuro, outros homens e mulheres como tu, possam surgir nesta Cidade, preservando-a e ampliando-a em seus limites, conquistas e descobertas. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Prof° Rui Carlos Ostermann para fazer parte da Mesa, que representa neste ato, não só a sua Secretaria mas como também o Sr. Governador do Estado. Citamos, também, com muito prazer a presença do Prof° Lamacchia, do Veríssimo, é uma honra recebê-los na Casa que é do povo e é nossa.

Com a palavra, o Sr. Tarso Genro, Vice-Prefeito desta Cidade.

 

O SR. TARSO GENRO: Exmo Ver. Valdir Fraga, honrado Presidente desta Casa; Jornalista Paulo Fontoura Gastal, meu amigo homenageado; querida Diná, esposa do Gastal; Ver. Antonio Hohlfeldt.

Ao longo da nossa gestão na Administração Municipal em nenhum momento solicitei ao meu companheiro de direção do Município de Porto Alegre representação em qualquer solenidade. Hoje eu não solicitei, eu exigi do Prefeito o direito de representá-lo nesta Casa. E as razões são das mais íntimas, sentimentais e pessoais até razões de fundo e de conteúdo a respeito da personalidade que estamos homenageando com o título de Cidadão de Porto Alegre.

Em 1968, eu residia na cidade de Santa Maria e já escrevia e remeti, naquela oportunidade, sem nenhum pistolão, sem nenhuma recomendação um poema em homenagem ao Manoel Bandeira. Qual foi a minha surpresa quando comprando num sábado o nosso “Correio do Povo”, lá estava ele, o poema, saltando sobre mim, lindamente paginado e publicado no “Caderno de Sábado”. Este foi um momento decisivo da minha formação, momento em que comecei a me indagar se também o texto, escrever a inteligência, a contribuição cultural não deveria ter um lugar na minha vida. Quando me mudei para Porto Alegre em 1972, em conversa com meu querido amigo Sérgio Faracco, fui informado de quem dirigia o “Caderno de Sábado”, esta personalidade, esse Vereador intelectual, escritor e que dignifica o nosso Partido e o mandato, Ver. Antonio Hohlfeldt, relatou no seu discurso. Conversando com Faracco fiquei perplexo ao saber que o Gastal exigia que a Calda Júnior pagasse àqueles que contribuíam com o “Caderno de Sábado”, enquanto nós no interior achávamos até que deveríamos pagar para ser publicado no “Caderno de Sábado”. Mas o Faracco me fez uma advertência: faz a lista dos trabalhos que publicaste, leva no “Correio”, mas não deixa para o Gastal, porque ele está, ordinariamente, escondido atrás dos seus papéis; feita a lista apresentei no Caderno do jornal Correio do Povo, e lá estava a figura do Gastal escondida atrás de pilhas imensas de papéis, com a sua cara ranzinza, e o seu olhar profundamente carinhoso; eu me apresentei a ele, disse meu nome é Tarso Genro, ele disse “Poemanuel”. Eu não preciso dizer a importância que tiveram na minha vida esses pequenos gestos de uma pessoa que deu uma contribuição cultural e intelectual indescritível para esta Cidade. São milhares de pessoas que conheceram nas páginas do “Caderno de Sábado”, o Armindo Trevisan, Mário Benedette, Sérgio Faracco, Hohlfeldt e tantos outros, e jamais teria condições de comprar um livro, matéria cara monetariamente, cara do ponto de vista da formação do povo brasileiro. Todo grande intelectual é um cidadão do mundo e Gastal já era há muitos anos cidadão do mundo. O que Porto Alegre faz dando a ele este reconhecimento de Cidadão de Porto Alegre, é registrar que também é nosso este Cidadão do mundo. Creio que eu não poderia fazer uma homenagem maior ao Gastal do que contar um fato que ocorreu comigo com relação ao “Caderno de Sábado” que é ao par de todas as suas contribuições, não tenho a menor dúvida uma contribuição fundamental para a formação de uma ampla gama de intelectuais e de leitores do nosso Estado e até fora do Estado. Ainda quando existia o “Caderno de Sábado”, eu tomava um táxi no Centro da Cidade com o “Correio do Povo” embaixo do braço, quando abri o “Correio do Povo” e retirei do seu interior o “Caderno de Sábado”, o motorista de táxi me disse: Doutor o senhor não deixa o Caderno para mim? Posso deixar, mas para que tu queres o Caderno. Eu quero o Caderno porque eu estou colecionando para a minha filha. Eu perguntei: A sua filha já tem formação Universitária? E ele me respondeu: Não, ela tem dois anos de idade. E é por isso que eu digo com a mesma intensidade, com o mesmo amor que o Antonio registrou: Muito obrigado, Gastal, nós é que te agradecemos por te oferecer esse título de Cidadão de Porto Alegre. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Eu convido o Ver. Antonio Hohlfeldt, e também o Dr. Tarso Genro, para a entrega do diploma. Ver. Antonio Hohlfeldt, e o nosso Vice-Prefeito para a entrega da Medalha. Convido aos nossos amigos para assistirem em pé a entrega do título.

(É feita a entrega do título.) (Palmas.)

 

Concedemos a palavra ao recém nascido Cidadão de Porto Alegre, Sr. Paulo Fontoura Gastal.

 

O SR. PAULO FONTOURA GASTAL: Exmo Sr. Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; querido amigo Tarso Genro, Vice-Prefeito de Porto Alegre, representando neste ato o Dr. Olívio Dutra; Sr. Fernando Peixoto, meu querido e amado amigo, representando o Ministro da Agricultura; minha querida e amada Eva Sopher, minha patroa em todos os sentimentos, Presidente da Fundação Teatro São Pedro; Jornalista Firmino Cardoso, que conheço há muitos anos, representando o jornalista André e a ARI, minha querida esposa. (Lê.)

Quero iniciar estas palavra confessando, desde logo e com toda a franqueza, que vivo hoje o dia mais fascinante de minha vida, como natural conseqüência do recebimento do título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, que me concede esta egrégia Câmara Municipal, por iniciativa do Ver. Antonio Hohlfeldt, amigo dileto de muitos anos e companheiro de trabalho durante duas décadas no “Correio do Povo”. Faço questão de agradecer aos Vereadores do fundo do coração, embora deixando bem clara minha perplexidade diante desta iniciativa, pois sinto que eu, sim, devo muitíssimo a esta bela cidade de Porto Alegre e que tal atribuição não passa de um gesto de bondade e de simpatia para com minha pessoa.

O título que agora me é entregue me enche de satisfação, de alegria e de orgulho, porque aqui vivendo, com breves interrupções, há mais de quarenta anos, fui desde os primeiros dias de atividade em Porto alegre, por ela conquistado. Desde logo me senti um cidadão porto-alegrense, afinal esta é uma reação natural de todos que aqui chegam, pois Porto Alegre tem encantos irresistíveis, que persistem até mesmo nos dias violentos e desumanos que hoje vivemos. Na verdade, o título que agora recebo e que, volto a proclamar, agradeço com toda a humildade, nada mais faz do que confirmar e oficializar um outro igual que, há muitos anos, arbitrariamente, eu já me concedera como natural atitude do enamorado desta Cidade, com seus encantos de típico centro latino-americano, matizada por toques de burgo europeu, principalmente alemão, sobretudo na época em que aqui cheguei, há mais de quatro décadas.

Lembro da Cidade de então: bares, confeitarias, restaurantes e choperias de saudosa memória, como a Confeitaria Central, dos amáveis irmãos Medeiros; os Bares Hubertus e Vera Cruz, este localizado ao lado do Restaurante Vera Cruz, no subsolo do cinema do mesmo nome, hoje Victória, confeitarias como a antiga Woltmann, ou o famoso Café Nacional, situado na Rua da Praia, frente à praça da Alfândega, que contava com afinada orquestra sempre a apresentar as inesquecíveis valsas vienenses. Locais como esses, e muitos outros do mesmo estilo eram freqüentados por gente afável, bem educada, simpática e, acima de tudo, cordial, que a todos conquistava. Quem poderia resistir a esta onda de amizade, de simpatia, pergunto eu? Logo fui conquistado pela Cidade e sem demora me senti cidadão de Porto Alegre, sentimento que a passagem dos anos só aprofundou e que, agora, por bondade dos senhores membros desta Câmara de Vereadores, é oficializado com o título Honorifico que acabam de me distinguir. A partir de agora passo a usar a cidadania de Porto Alegre muito naturalmente e com muita honra, não mais com o sentimento de usurpador com que a empreguei ao longo das últimas quatro décadas.

Convém no entanto, deixar bem claro que, de maneira alguma isto significará voltar as costas a minha cidadania de Pelotas, cidade onde nasci e vivi minha infância, adolescência e juventude. Cidade igualmente simpática e adorável, onde fui educado e encaminhado para a vida pelos meus queridos pais. Ele, Edmundo Gastal Sobrinho, engenheiro agrônomo e oficial do Registro de Imóveis, homem de cultura humanística excepcional e guia perfeito de quantos dele se aproximavam. Ela, Maria Fontoura Gastal, mulher de sólidos princípios cristãos e sempre mãe amorosa e dedicada.

Pelotas, onde aprendi a apreciar e a zelar por coisas de arte, sobretudo a música. Neste sentido, jamais esquecerei a emoção de quando assisti no Cine-teatro-Guarani, em exclusiva apresentação no nosso Estado, durante a Segunda Guerra Mundial, o Coral dos Meninos Franceses Les Petits Chanteurs a la Croix du Bois.

Pelotas, onde vivi a infância e adolescência com meus nove irmãos e com amiguinhos inesquecíveis, com os quais venho mantendo, ao longo dos anos, a mesma amizade de sempre, só interrompida, em muitos casos, pela ação aplicável da cruel ceifadora, que vai nos roubando seres tão queridos até chegar o momento de sermos nós próprios o alvo escolhido de sua coleta.

Pelotas, de onde acompanhei apaixonadamente as emoções dos primeiros filmes a que assisti, principalmente as memoráveis aventuras das fitas em série”, quando ao final de cada episódio aparecia o enervante aviso, a ocupar a tela de lado a lado: continua amanhã”.

Pelotas, onde assisti, bem garoto ainda, aos apaixonantes programas duplos nos cines Guarani, Sete de Abril e Capitólio.

Pelotas, onde acompanhei na tela inesquecíveis façanhas do maior Cowboy de então, o imbatível Tom Mix, sempre a cavalgar seu admirável seu cavalo branco. Naquelas matinés, fazendo coro com os demais companheiros da platéia, garotos e garotas como eu, passava quase duas horas a uivar, desesperadamente contra as costumeiras maldades dos bandidos em sua ação criminosa para se apossarem do “mapa da mina”, ou raptarem a ingênua e indefesa mocinha.

Pelotas, onde conheci Diná, companheira de toda a vida e paixão maior do que o cinema, maior mesmo do que qualquer outra coisa.

Ao me restringir apenas a essas breves evocações emocionais de minha infância e adolescência, evitando reportar outras lembranças de meu passado em Pelotas, pretendo apenas explicar e justificar minha paixão pela cidade natal, cuja cidadania faço questão de proclamar, também, no momento em que recebo, com muita honra e orgulho o título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre.

Desde que cheguei a Porto Alegre sempre tenho procurado praticar a religião de meus pais. Eles diziam que sua religião, além de cristã, era acima de tudo a da família e dos amigos. Assim venho fazendo muitos amigos, que só têm me proporcionado momentos de alegria e emoções profundas. Junto desses amigos e trabalhando no “Correio do Povo”, onde permaneci durante 33 anos, só me afastando quando foi dolorosamente interrompida sua circulação, sinto que minha vida, se nada oferece de excepcional, pelo menos ganhou consistência em algumas campanhas e iniciativas que enriqueceram a vida cultural e artística desta Cidade. Exemplo destas campanhas foi a da criação e manutenção do Clube de Cinema de Porto Alegre, contando com o apoio, sobretudo, do escritor Guilhermino César, ao elaborar os Estatutos da Entidade; do amigo Francisco de Paula Araújo, seu primeiro tesoureiro; e do saudoso Jacó Koutzii, durante anos responsável pela seção de cinema da “Revista do Globo”, onde assinava com o pseudônimo de Plínio Morais e que foi o segundo Presidente do Clube de Cinema de Porto Alegre. Outro exemplo que gostaria de lembrar foram os Festivais de Coros, a princípio no Rio Grande do Sul e depois internacionais, criados pelos inesquecíveis Prof° João Ribeiro e o notável e sempre eficiente Dante Barone, Presidente da Associação dos Festivais de Coros e, também, o organizador dos memoráveis jantares que reuniam, depois de cada noitada no Salão de Atos da UFRGS, integrantes de quatro, cinco ou seis corais da Argentina, do Chile, da Venezuela, do México, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Santa Catarina, do Paraná, e dos longínquos Estados do Nordeste do País. Então eram vividos mais estreitamente os instantes de profundo relacionamento entre pessoas que estavam se conhecendo e praticando, em muitos casos, os primeiros passos de uma amizade douradora; tudo ao som das vozes a interpretarem com entusiasmo e profunda emoção, os respectivos repertórios. Se da enorme seita religiosa de amigos que venho fazendo com a passagem dos anos estou citando apenas os que aqui evoquei, não é porque esses sejam mais importantes do que os demais, mas sim porque as atividades nas quais estivemos ligados são do conhecimento artístico-cultural de Porto Alegre e, qualquer um, poderá avaliar facilmente o significado destas amizades. São todos amigos que me enriqueceram ou enriquecem a vida e permanecem para sempre convivendo na lembrança e na saudade, e que, no meu caso pessoal, contribuíram de maneira irreversível para que me sentisse, há muitos anos, apaixonado cidadão porto-alegrense; título este que a Câmara de Vereadores, numa demonstração de bondade típica da gente local, agora me atribui em caráter oficial. Título que, mais uma vez, agradeço comovido afirmando que, aos 68 anos de idade, neste dia 5 de dezembro de 1989, estou vivendo o primeiro dia de uma nova existência. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

Está com a palavra, o Ver. Leão de Medeiros, pela Bancada do PDS.

 

O SR. LEÃO DE MEDEIROS: Meus Senhores e minhas Senhoras. Nada mais agradável em exaltar em meu nome pessoal e da Bancada do PDS as virtudes do homem de bem sobretudo quando, na atividade política, o homenageado se situa em terreno diverso do orador, não raro a ele oposto. Pois se no elogio do correligionário pode surgir e permanecer a dúvida quanto a autenticidade do louvo, talvez mais inspirado na irmandade de convicções que  o mérito real, no tributo prestado aos militantes de outras grei a homenagem brota sincera, proclamando a satisfação de reconhecer que as divergências não elidem o reconhecimento do mérito que comunica dignidade e valor ao próprio antagonismo das idéias.

Assim é o homenageado de hoje na meritória iniciativa do Ver. Elói Guimarães. Firme nas suas convicções, pugnaz nas atitudes, brilhante no pensamento e na palavra, íntegro na conduta e, sobretudo, elegante no trato dos opositores, que com ele, sabe afastar do plano pessoal a divergência das idéias.

Na realidade, são duas as imagens que ostenta, numa combinação rara e difícil: Petracco, o político atuante e Petracco, engenheiro destacado. Com o mesmo empenho que se põe a analisar a realidade social e política, com a mesma percuciente capacidade analítica que mobiliza no debate do Estado, da Sociedade e da Nação, logrou construir uma das mais sólidas reputações profissionais no cenário local e nacional, de engenheiro especializado em, tecnologia da energia e sua conservação, estabelecido com escritório em Porto Alegre e Pernambuco. No cenário local, afora inúmeros profissionais de arquitetura que se socorrem de seu assessoramento no projeto, conta entre seus clientes com algumas das grandes empresas locais como os grupos Gerdau, Zafarri e Do Sul; no âmbito nacional, tem projetos executados em Pernambuco, no Pará, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro em São Paulo; já ultrapassa os limites no Brasil, ao negociar recentemente, na Alemanha, o “Know-how” de um de seus projetos de refreadores evaporativos.

Como empresário, é responsável técnico, diretor e acionistas de uma empresa especializada em cordoaria pesada para atração de navios, sediada em São Leopoldo, exportando regularmente para as nações que exploram o petróleo do Mar Norte, para a Grécia, a Holanda, o Chile, Cingapura, a Índia, a Itália e a Inglaterra, em acirrada disputa com a concorrência internacional, que vem enfrentando com alta qualidade de seu produto, o qual tem reiteradamente superado recordes mundiais de resistência, medida em número atrações de grandes navios, a que o cabo resiste incólume.

Nascido em Passo fundo, tem origens italianas e espanholas. Seu avô paterno, João Baptista Petracco nasceu em San Vito de Tagliamento, nas proximidades de Udine, na Itália Setentrional; sua mãe, Argentina, descendida de espanhóis e guaranis. É, pois, na etnia,  a síntese do Rio Grande do Sul.

Nosso homenageado é um homem profundamente marcado pe educação que recebeu influenciado pelos mestres que encontrou: guarda, com grande carinho, a figura marcante do seu curso primário, no Grupo Escolar Protásio Alves, em Passo Fundo – a Diretora – que até hoje visita – D. Maria Súria Dipp, a qual, ainda fazendo as vezes de segunda mãe e preceptora, escreveu-lhe uma carta, em 1986, que guarda como um documento maiôs valioso de sua vida, pelo que contém de sábio e de comovente.

Em Porto Alegre, no colégio Nossa Senhora das Dores, encontrou na figura admirável do Irmão Bento, o impulso para os livros, que não mais o deixou, a  partir da obra de José Ingenieros, em “As Forças Morais” e o “O Homem Medíocre”. No Colégio Júlio de Castilhos encontrou,, no Mestre de Química, Abílio Azambuja, outro alicerce de seu futuro perfil de engenheiro. Ingressou no Curso de Engenharia Mecânica e Elétrica, da Escola de Engenharia da UFRGS, lá privando com os educadores notáveis, como Alquindar Pedroso e David Mesquita da Cunha e, também mercê de sua presença na política estudantil, cosntg5uinbdo grande apreço e admiração pela figura extraordinária que foi o Reitor Elyseu Paglioli. Mas, curiosamente, atribui sua inclinação para a área de energia de um mestre da matéria mias próxima da Engenharia Civil  - o Professor Luiz Duarte Viana, cujo enfoque sobre a estabilidade das construções, a partir do conceito do trabalho virtual, de alguma forma levou o jovem Mecânico e Eletricista a sintetizar sua visão no programa de energia.

Diplomado, ingressou, em 1963, por concurso, nos quadros da Petrobrás e prosseguir, ao mesmo tempo, na militância política que iniciava no ciclo secundário de sua educação. Segundo diz, com o humor fino que põe até mesmo em sua auto avaliações, ingressou na política instado a “combater os comunistas”, mas acabou contaminando-se ao menos de uma forma atenuada de vírus...

No ano de 1964 o colhe Suplente de Deputado Estadual pelo PDS. Cassado logo em abril de 1964, só vai ter seus direitos políticos restabelecidos pela anistia de 1979. Atravessou com coragem e convicção os anos de provação, talvez porque, ao olhar para este passado, não veja o que censurar-se, sabedor de que arrostou com dignidade os tempos adversos e usou a experiência para agradecer-se sem ressentimentos e sem ódios, granjeando o respeito e admiração até mesmo de muitos adversários. Afastado da política, voltou-se integralmente para sua outra paixão, permitindo que, de sua inteligência e labor, surgisse o grande engenheiro em que se transformou (o que segundo um de seus antigos mestres na escola der Engenharia não deixa de seu um mérito indireto a crédito dos que o baniram temporariamente da distração política, prejudicial aos desígnios de engenheiro que bradava por emergir de sua complexa e agitada personalidade...)

Porto Alegre, ilustre engenheiro, o faz neste momento, Cidadão Emérito. Nesta distinção está, mais o projeto ao profissional ilustre, mais que o tributo ao político coerente e fiel às suas convicções. Está o reconhecimento daquilo que foi reconhecido daquilo que foi retirado no início desta palavras: a grandeza do homem de bem, que sobrepujou a adversidade abrindo, com coragem e dignidade, novos rumos para a sua vida, sem permitir que o veneno do ressentimento o limitasse no mesquinho realimentar do ódio que é uma desculpa para  a paralisia e o medo! (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Ver. Flávio koutzii, que falará em nome da Bancada do PT.

 

O SR. FLÁVIO KOUTZII: Não poderia começar sem registrar, porque acho que é uma pequena singularidade, neste momento,e  um dos prazeres da vida, que são esses reencontros e estas situações. Eu também fui da FEURGS, na época em que tu começavas a liderar um movimento estudantil combativo-nacionalista e corajoso e que enfrentou, sob a inspiração e a liderança de Petracco, nos anos de 1964 e das lutas da legalidade. Me parece que faz muito tempo, e, ao mesmo tempo, que faz pouco tempo, porque, em parte, a cassação das nossas vidas, as obstrução dos caminhos dos democratas, dos homens e mulheres de esquerda neste País, nos permite, recém nesta década, assumir, publicamente e plenamente, a potencialidade de nosso sonhos, de nossa capacidade de trabalho e de nossa capacidade de luta. Acho que a intervenção do Ver. Leão de Medeiros, que me antecedeu, foi muito precisa e adequada, tanto quanto refez e recontou a biografia, pessoal e profissional, do Petracco, quanto, de forma muito honrada e elevada, distingui-se a diferença ideológica que realmente existe entre homens que hoje se definem e no passado também, em terrenos opostos nas vias e nos caminhos da construção deste País. É uma demonstração de respeito e é uma demonstração de lucidez. Mas eu quero falar como irmão de esquerda. Quero falar com aquele que representa o partido dos Trabalhadores nesta cerimônia, que é um dos resultados dos nossos comuns esforços, das nossas lutas e de momentos muitos difíceis; e ressaltar que o que é justamente singular, o que talvez seja o que mais possa-nos emocionar e dar relevo às cerimônias que as vezes são um pouco formais, é isto que não acontece todos os dias, é o reconhecimento gradual, incontestável dos méritos de quem mérito e não mais da seleção dos que tem mérito apenas quando estão num campo determinado da posição social. Para nós é uma honra e uma satisfação, um momento de fraternidade trazer a palavra do Partido dos Trabalhadores, de reconhecimento da trajetória de Fúlvio Petracco e de, fundamentalmente, destacar o que é evidente, que o que se reconhece nele é o caminho feito, como militante do povo. Ele foi e é engenheiro, mas entendemos que foi e é e será sempre, um lutador das causas populares. Esta grandeza, este esforço e esta generosidade é que são, no nosso entender, o que principalmente se reconhece hoje. . E quando a Cidade começa a reconhecer isto, através da sua representação política que somos nós, significa que ele agrega, ao universos dos seus valores, na identificação do que é importante, o mérito doas caminhos feitos, o mérito do caminho que tu fizeste. É isto que se reconhece aqui, é isto que a Bancada do Partido dos Trabalhadores saúda, através da nossa intervenção nesta tribuna e é neste abraço que nós queremos te estender, Patracco, nosso companheiro. Sou grato. (Palmas.)

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Omar Ferri, pelo PDS, pelo PCB e pelo PC do B.

 

O SR. OMAR FERRI: Sr. Ver. Clóvis Brum, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Tarso Genro, Vice- Prefeito da Cidade; Engenheiro Fúlvio Petracco, nosso querido homenageado; excelentíssimo Deputado Jauri de Oliveira, Líder da Bancada do PSb na Assembléia Legislativa; Srs. Terezinha Petracco Grandene, irmã do nosso homenageado e representante dos demais familiares; Srs. Vereadores aqui presentes; minhas Senhoras, meus Senhores e de um modo especial e com muita satisfação aos companheiros do PSB, cuja militância em sua quase totalidade veio trazer os eu abraço a sua saudação e a sua solidariedade àquele que simboliza o que significa e dá forma e conteúdo ao próprio Partido no Rio grande do Sul, Sr. Fúlvio Celso Petracco. Eu não sei se é fácil ou difícil dirigir algumas palavras nesta tarde ensolarada, nesta solenidade que para nós toca profundamente o âmago de nossos corações. Porque par anos do Partido Socialista o Petracco realmente simboliza o próprio Partido no Rio Grande do Sul. Muitas vezes tem pessoas que fazem confusão com o PDS e se referindo Amim dizem – tu é do PSDB do partido do Petracco – a aí as cosias se esclarecem. Mas, a homenagem é acima de tudo a um Engenheiro competente, a um profissional brilhante e a um homem condutor e de uma postura ideológica sem par em nosso Estado. Eu digo sem par porque são dezenas de anos que o Petracco vem magistralmente nas lutas em favor da nacionalidade Brasileira.

Então me parece que aí está maior lição do Petracco para todos nós. E eu até falo com muita tranqüilidade, razão porque agora vou fazer um esclarecimento, Petracco, a ti,, ao público, ao dizer que eu vinha registrando até os dias de hoje mas acho que este é o momento solene, este é o momento que eu devo te agradecer na medida exata de tua grandeza. Eu resisti a entrada no PSB, por causa da imagem de certa gente que te apontava como autoritário dentro do Partido, eu vinha resistindo, eu inclusive já vinha colaborando com o Partido, mas não assinava ficha. E de repente por estas contingências da vida eu devo a assinatura da ficha de filiação a um grande irmão e companheiro nosso que infelizmente hoje não se em contra aqui, que é o Dr. Bruno Mendonça Costa. E passei a conviver contigo dentro do Partido e posso dizer tranqüilamente, de público, que eu não sei muitas vezes se constrói imagens diferentes do próprio sentimento e do próprio comportamento de uma pessoa. E esta foi a tua imagem durante algum tempo, Petracco: O autoritário. Não sei como é e porquê,s e durante todas as reuniões deste último ano e meio que eu convivo com a direção Partidária, em nenhuma vez eu assisti que tu tivesse tomado uma atitude fora do contexto e do consenso de todos nós. O SR. PRESIDENTE: Damos por encerrados os trabalhos da

 presente Sessão, comunicando-lhes que o nosso homenageado receberá os cumprimentos neste mesmo local. Agradecemos, honrados, pelas presenças.

 

 

 

 

 

 

 

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h5434min.)

 

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